quinta-feira, 21 de agosto de 2008

Bíblia do caos

Por muito tempo eu tive vergonha de dizer que gosto de Appetite for Destruction. Foi uma bobeira que levou anos para ser curada. Acho que a chegada repentina do grunge transformou o Guns em ícone de uma era caricata. Na figura de Kurt Cobain tínhamos um guitar hero que não solava, não vestia couro e cujos álbuns não ficavam na mesma seção dos discos do Poison. Isso era uma mudança do caramba de uma hora pra outra.

Fiz as pazes com Appetite for Destruction quando o Tom Leão levantou o tema em seu blog: qual foi o disco que te fez começar a ouvir rock? Não adianta nem disfarçar. O primeiro disco de Axl, Slash & Cia foi minha bíblia durante grande parte da adolescência. Poucos são os discos dos quais eu sei cantar todas as letras. E esse eu sei de trás pra frente.

Muita gente torce o nariz para Appetite hoje em dia, mas eu duvido, em minha humilde opinião, que se teria chegado ao grunge sem "Welcome To The Jungle". Que caras como os Strokes não cansaram de ouvir "Rocket Queen" e desistiram de tentar tocar aquilo no violão. O grunge era a inclusão: você podia pegar a guitarra e tocar "Smells Like Teen Spirit" na segunda aula de violão e isso era do cacete... era libertador! Mas você nunca tocaria o solo de "Sweet Child O' Mine" como Slash. Sua paciência em tentar acabaria antes de qualquer progresso.

O Guns tem altos e baixos, egos inflados, muita pose e faz parte do passado? Pode até ser... mas se você quer meter o malho, Appetite for Destruction merece ser tirado desse pacote. Se não concorda, ao menos ouça mais uma vez antes de dar o veredicto.


1. Welcome To The Jungle
2. It's So Easy
3. Nightrain
4. Out Ta Get Me
5. Mr. Brownstone
6. Paradise City
7. My Michelle
8. Think About You
9. Sweet Child O' Mine
10. You're Crazy
11. Anything Goes
12. Rocket Queen

10 comentários:

Anônimo disse...

Foi curioso ler esse post!! Eu acabei de gravar esse disco pro meu filho, aproveitei e fiz um pra mim. O interessante é que eu venho pensando a mesma coisa sobre esse disco de alguns dias pra ca, percebi que eu tinha criado uma certa negaçao da faze em que escutava esse disco com o som no talo sem parar. Meu filho descobriu Guns sozinho e ta viciado. Acho que isso serve pra mostrar que se vc é um moleque de 14 anos tem muito mais facilidade pra entender o que o rock do que um velho de 34.
YL

atlantic disse...

hahahaha... excelente comentário, YL.

Às vezes essa turma de 14, 15 anos surpreende mesmo. Talvez por não terem vivido aquela fase tão de perto, eles não tenham noção de como o Guns foi soterrado pelo grunge. Os caras, de uma hora pra outra, foram banidos do rol de bandas memoráveis. Hoje acho isso bastante injusto.

Henrique Kowalsky disse...

Eu curti pra caramba esse disco quando saiu... E acho até que posso tirar ele do "balaio" do Guns... Mas quando penso em Guns sempre sinto um ranso de "One in a Million", com toda sua carga de preconceito que eu realmente só fui entender mais velho. De qq jeito, ainda me pego cantando por aí: "I used to love her, but I have to kill her..." (do mesmo EP que tem "1 in a 1000000" o "Lies").

Anônimo disse...

Até que enfim !!!

Esse post foi o melhor de todos até hoje !!!

Bush em breve... aguardem ! :p

atlantic disse...

Eu lembro de uma entrevista antiga na MTV, acho que foi uma daquelas entrevistas clássicas que rolavam, na qual o Axl jurava que "One in a Million" é narrada por um personagem. Que aquilo não é a visão dele e as pessoas entenderam errado. Puro marketing para levantar polêmica e ter um selo de advertência na capa do disco chamando atenção.

Quando eu era moleque fiquei meio assustado (e até mais interessado no Guns) depois de ver como algumas letras eram diretas com drogas e sexo.

***

O Gerson e sua devoção a Axl Rose... vaiou o show do Oasis todo no Rock in Rio. E o pior é que eu não pude fala nada. O show foi mesmo uma merda. :)

Henrique Kowalsky disse...

Ok, eu até acredito não ser a visão dele, "One in a Million", mas aí fica fácil, não é? É fácil não assumir a responsabilidade. Vamos supor, vc escreve um texto super racista e publica no seu site. Escreve na primeira pessoa o tempo todo: "Eu acho que os negros isso... Eu penso que os negros aquilo... Eles deveriam é voltar pra... etc". Passa um mês você dá uma entrevista: "Não, vocês entenderam tudo errado. É só a narração de uma história, é um personagem que eu criei para chamar a atenção pro meu site. Eu até sou fan do Hendrix". Bem, fica fácil DEMAIS. Enfim, não quero criar uma discussão. Como eu disse, gosto MUITO de "Appetite for Destruction", e até fui no show do Guns no HollyWood Rock. Só que, para mim, depois que eu entendi a letra de "One in a Million", sempre fica o ranso, blz? Abraços e parabén pelo excelente blog.

atlantic disse...

Concordo com você, Henrique. O que sempre me dá quando ouço essa música é a impressão de uma jogada de marketing para chamar atenção para o Lies, um disco que tinha o lado B como principal atrativo com sua pegada acústica.

Não acho que o disco precisasse dessa polêmica, mas sempre penso: se isso passou pelo marketing da gravadora Geffen é porque os caras sabiam como tirar dinheiro disso. Ou seja, a minha lógica é ainda pior: os caras soltavam a voz no racismo e na homofobia para faturar mais e ter mais falatório pro disco.

Irresponsabilidade total.

Abraços, cara!

Anônimo disse...

Gn´r até q tem o seu valor no entanto dizer que
"mas eu duvido, em minha humilde opinião, que se teria chegado ao grunge sem "Welcome To The Jungle"." é de doer.
nunca teriam chegado ao grunge sem o crazy horse Neil Young...
de qualquer forma viva o rock'n roll em todas as suas formas...

atlantic disse...

Sem querer desmerecer o Neil Young. A minha opinião se refere ao fato desse disco ter trazido uma mudança de tema no rock dos anos 80. Era só David Lee Roth, Poison, Motley Crue... O clima era meio "eu sou um rockstar, me dá uma cerveja e girls, girls, girls".

Esse disco meio que acabou com a festa. As letras falam de gente que está deslocada, fora de lugar. A letra de "My Michelle" é uma pancada. O mundo não era bonito nem divertido.

Pouco depois vem o grunge e reafirma. "O mundo não é bonito, eu me odeio e quero morrer." Mas essa mudança de tema fez escala no Guns. Não no instrumental, nas letras.

E como diz o Mr. Anônimo: viva esse tal de roquenrol!

lucakiss disse...

Eu descobri o rock and roll com o Back in Black do AC/DC e o Rock and Roll Over do KISS! Dois discaços fodas! Quando o Appetite saiu eu já estava totalmente viciado em música e ouvindo muito Sabbath, Ozzy, Led Zeppelin, e milhares de outras bandas!Me lembro de quando ouvi o disco, logo quando saiu, e achei do caralho na época! Os solos do Slash eram fodas! O Guns foi uma boa banda e quebrou com toda aquela parada que estava vindo dos anos 80, onde roupa colorida e muita pose era a onda. Até o Ozzy entrou nessa naquela época!Ainda curto algumas coisas do Use your Illusion também, apesar de ouvir Guns muito raramente hoje em dia! O que interessa é o Rock and Roll! Acho que eles fizeram a parte deles ali....quanto a One in a Million.....sei lá....nunca achei que fosse ele falando...sempre pensei como se fosse outra pessoa falando na primeira...Não acho que o Axl devia estar com todo esse preconceito não....o cara era doidão pra caralho....deve ter lido alguma coisa e roubado a idéia..