Rolou esse penúltimo post sobre o site Cassette From My Ex e tenho notado, de uns tempos pra cá, que mudei bastante meu comportamento em relação à música. A velocidade de conseguir ouvir bandas novas é espetacular, mas a velocidade com a qual não se dá mais atenção a um disco também é brutal.
Digo isso porque estou ouvindo James Brown Live At The Apollo pela segunda vez. Segunda vez! Um disco fantástico que, segundo o contador do iTunes, eu não ouço desde o dia 18 de dezembro de 2007. Como pode, cara? A velocidade de informação e curiosidade são tamanhas que a gente ouve o disco uma vez, classifica como bom e já parte pra baixar outra coisa na mesma hora.
Há pouco mais de 10 anos essa minha relação com música era bem diferente. Eu ia a uma loja e ficava com 3 discos na mão tentando escolher qual levar por esse preço absurdamente caro de R$ 20! Depois de quase meia hora de dúvidas e considerações, me decidia entre um dos 3 discos e ia pra casa ouvir. Não existia nem a possibilidade de ouvir trechos das músicas, algo que nasceu com as megastores em 1999.
Os discos eram escolhidos por critérios até fáceis: bandas preferidas com clipes na MTV tinham seus discos levados sem pestanejar. Conseqüentemente, a coleção de discos era muito repetida e, às vezes, enjoava. A descoberta de sons novos era muito restrita. Pior era quando se queria arriscar e comprar as bandas que não tinham o carimbo da MTV. Às vezes você levava pra casa um disco e, na primeira audição, tinha a impressão de que havia perdido dinheiro. A reprovação era reforçada pela idéia de só poder comprar outro disco no próximo mês (afinal, 20 era muita grana num cd...com isso dava pra circular de ônibus o mês inteiro).
Dessa reprovação nascia algo interessante: você se obrigava a ouvir aquele disco de novo. Será que a grana "aplicada" fez com que eu criasse muita expectativa ou o disco é uma merda mesmo? Prova dos nove nele!
Lógico que uma parte desses discos era espinafrada de novo e relegada ao fundo da pilha de cds, servindo de pódio pros discos de gente que sabe fazer. Já os que escapavam desse humilhante enterro conseguiam altas patentes e ainda seriam gravados em fitas para diversos amigos.
Hoje é tudo muito mais rápido. Se não passou na primeira audição, nem vai chegar na segunda. A gente deleta sem pena. Essa velocidade de desocupar espaço no HD às vezes te faz dar um tiro no pé. Estou aqui, pela segunda vez, ouvindo James Brown arrepiando a platéia do Apollo. Um disco impressionante demais pra ter ficado meio ano engavetado. Vou repensar essa pressa em ouvir e descartar.
PS: na próxima semana prometo postar esse disco de James "Mr. Dynamite" Brown, ok?
sábado, 21 de junho de 2008
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2 comentários:
Na última quinta um clima nostálgico me fez colocar o velho Kerplunk pra tocar. Enquanto o playlist avançava o iTunes acusava quantas vezes cada faixa foi reproduzida: 1. Lembrei de 1995 e de como esse CD não saía do som. Ele era o CD da vez. Não escutaria nada diferente até o fim do mês ou nos próximos 2 meses. Foi um disco caro e difícil de achar — um álbum desconhecido de uma banda que começava a fazer sucesso — uma raridade
As músicas têm efeito de trilha sonora pra mim.
Kerplunk me manda de volta pra adolescência e as paixonites angustiantes do colégio; Are You Experienced/First Rays me levam ao 2º grau no impacto com barleys filados, cachaça barata y otras cositas más; Jeff Beck e Rod Stuart acompanham Hendrix nessa época — repertório roubado do então professor Bandeira pelo próprio irmãozinho. A repetição marcou cada álbum nos meus miolos de forma indelével e a associação com os eventos foi natural.
Hoje é raro eu escutar mais de 5 vezes um disco bom. Os que não me prendem de primeira são, como você disse, apagados na hora. Escutar muitas vezes um mesmo álbum significa deixar de escutar os 5 novos cds baixados na noite anterior.
Maldita promiscuidade musical.
Às vezes pergunto que música vai me fazer lembrar este 2008 daqui a 15 anos? Talvez o pagode mal berrado de um boteco próximo que invade a minha janela todos os fins de semana.
Preciso voltar a me apegar às músicas...
Exatamente o que eu sinto, bonzo. Agora parece que nenhuma música marca mais do que uma semana. Eu era um viciado em música e sabia o nome de todas as canções das bandas que eu gostava. Hoje em dia não consigo mais guardar o nome das músicas do Franz Ferdinand, por exemplo. Muito menos guardar a letra.
Acho que os últimos discos que foram ouvidos por mim até quase entrarem em combustão foram os dois primeiros dos Strokes.
E como vem memória boa quando se coloca um Green Day, Operation Ivy, Bad Religion. Fase de moleque total. Todos ouvidos e cantados por anos com a mesma empolgação.
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